Gualín do TTK: conheça a língia criada em bairro do RJ com estrutura própria

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Gualín do TTK: conheça a língia criada em bairro do RJ com estrutura própria

O território de proporções continentais e uma população diversificada étnica e culturalmente de mais de 210 milhões de pessoas fazem do Brasil uma terra rica em idiomas. 

De acordo com o último Censo Demográfico realizado em 2010 pelo IBGE, o país registrou 274 línguas indígenas faladas por 305 etnias. 

Entre as centenas de línguas faladas no Brasil, você sabia que existe um idioma criado no coração do Rio de Janeiro, mais especificamente no bairro do Catete? Estamos falando da Gualín do TTK.

Origem
A Gualín, pela capacidade de ‘criptografar’ a mensagem, foi um instrumento de resistência e coesão

Felipe Vital, pesquisador e especialista em linguística

Quando a cidade do Rio de Janeiro ainda era capital do Brasil, o Palácio do Catete (hoje Museu da República) era a moradia oficial dos presidentes da República. Por lá, moraram figuras importantes da política brasileira, como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

Mesmo após Brasília se tornar capital do Brasil, o Palácio do Catete continuou como uma das grandes representações da política brasileira. Por isso, o local ficou marcado por diversos protestos e manifestações contra a ditadura militar brasileira, instaurada no início da década de 60.

Visando fugir da repressão da época, a população do bairro criou uma maneira de se comunicar para driblar a censura do poder militar, de acordo com o pesquisador e especialista em linguística Felipe Vital. Dessa forma, surgiu a Gualín do TTK.

“A Gualín surgiu no bairro do Catete no contexto da ditadura militar. O triângulo Catete-Glória-Lapa, também conhecido por ‘KGL’ hoje em dia na cultura local, foi um reduto de diversos grupos sociais contrários ao governo militar”, afirma.


Funcionamento da Gualín

De acordo com o especialista em linguística, a Gualín do TTK consiste em trocar a ordem silábica das palavras. Por exemplo, TTK significa Catete: quando dito ao contrário, Catete se torna “Teteca”.

“No sentido da construção textual, a Gualín se estrutura em torno de frases curtas, relativamente simples, de fácil acesso mental. No geral, substantivos, adjetivos e verbos sofrem inversão”, aponta Felipe.

A linguagem não é exclusividade do bairro do Rio de Janeiro. Em diversos países há exemplos de idiomas semelhantes, que alteram a ordem das sílabas para criar uma forma diferente de comunicação.

Entre as línguas irmãs do TTK, temos a Ludykia, falada em Uganda; o Vesre, no Peru; e o Verlan, na França.


Influência na cultura carioca

A Gualín do TTK ajudou a promover uma forte cultura urbana na cidade do Rio de Janeiro, de acordo com o linguista. O Catete, bairro de origem da língua, tem ligações com o rap através de pichações e rappers de renome nacional como Filipe Ret, Marcelo D2 e Sain.

Segundo o especialista, a língua além de ser um recurso de comunicação, também representa uma formação identitária e pertencimento de “grupos subversivos”. A Gualín passou de um mecanismo “censurado” para se tornar um símbolo de culturas de pichação e skate, potencializada pela ascensão do rap.

Além da influência na cultura urbana carioca, Felipe ressalta a importância da existência da Gualín enquanto riqueza cultural brasileira.

“Como linguista, é um enorme prazer acompanhar e descrever as transformações que as línguas passam. Jogos-de-palavra, ou gírias, além da variação linguística propriamente, transformam a língua em diversas dimensões e isto é demonstração da vivacidade da cultura e das pessoas”, diz.

Um dos representantes da linguagem e nascido no Catete, o rapper Filipe Ret criou uma música em 2021 totalmente na linguagem do TTK. “Tributo ao TTK” ainda contou com participações de BK’, Sain e Mãolee.

 

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