O Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu a prescrição de esteroides androgênicos e anabolizantes com finalidade estética, ganho de massa muscular e melhora do desempenho esportivo. A restrição foi publicada, ontem, no Diário Oficial da União (DOU).
A justificativa para a proibição foi, segundo as entidades científicas que solicitaram ao CFM uma regulamentação, a inexistência de comprovação dos benefícios e da segurança dessas terapias. Os esteroides anabolizantes são indicados para pacientes que não produzem hormônios adequadamente e precisam de reposição, mas é frequente sua utilização com fins estéticos.
A resolução do CFM proíbe, também, que sejam realizados cursos e eventos para estimular o uso ou fazer apologia de possíveis benefícios do uso desses medicamentos para fins estéticos ou esportivo. Seis sociedades médicas divulgaram carta conjunta solicitando que o conselho regulamentasse o uso de esteroides anabolizantes e similares para fins que não seja o da reposição hormonal.
“É crescente e preocupante a disseminação de postagens, em redes sociais, fazendo apologia ao seu uso, transmitindo uma falsa expertise e segurança na sua prescrição, colocando em risco a saúde da população”, salienta a carta ao CFM. O documento é subscrito pelas seguintes entidades: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e do Exercício (SBMEE), Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e Associação de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
O presidente do CFM, José Hiran Gallo, afirmou que diversos especialistas no assunto foram ouvidos antes de a restrição ser imposta. “Não existe dose mínima segura, como alguns usuários alegam. Por isso, estamos proibindo essa prática”, afirmou. Em relação ao uso para o qual tais substâncias são indicadas, Gallo afirmou que “nada muda em relação às indicações que já existem na literatura médica e têm respaldo científico. Nesses casos, entendemos que os benefícios compensam os riscos do uso”.
Efeito temporário
O nutricionista Lucas Rabelo explica que os resultados obtidos por pessoas que consomem anabolizantes para ganho muscular são “temporários” e trazem diversos riscos à saúde. “Esteroides visando estética são sempre um abuso, algo além do que o corpo precisa apenas para acelerar o processo de construção muscular. O que poucas pessoas sabem é que esse ganho obtido são um aluguel de corpo, passam meses depois do fim da medicação. É uma falsa promessa de consolidar um novo corpo. Os resultados são temporários, mas o dano à saúde pode ser eterno”, alerta.
Entre os efeitos adversos do uso sem prescrição estão os cardiovasculares, incluindo hipertrofia cardíaca, hipertensão arterial sistêmica e enfarte agudo do miocárdio, aterosclerose, estado de hipercoagulabilidade, aumento da trombogênese e vasoespasmo; doenças hepáticas, transtornos mentais e de comportamento, incluindo depressão; além de distúrbios endócrinos, como infertilidade, disfunção erétil e redução da libido.
Estudo realizado pelo Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas de São Paulo, mostra que quem ingere anabolizantes apresenta uma maior tendência para a formação de placas nas coronárias, que impedem o fluxo sanguíneo e o suprimento de oxigênio. Outro fator de risco é que o chamado “colesterol bom” (o HDL), além de estar presente em menor quantidade no organismo, também passa a ter dificuldades de atuação no metabolismo. (Com Agência Estado)